"A produção ruminal de CH4 in vitro foi reduzida em 84% com a inclusão de A. taxiformis liofilizada e em mais de 96% com a inclusão dos óleos vegetais onde esteve imersa a A. taxiformis."

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Asparagopsis taxiformis: a macroalga vermelha capaz de reduzir drasticamente as emissões de metano digestivo dos ruminantes​

A população mundial está em constante crescimento. Estima-se que, até 2050, a população global atinja os 10 biliões e que a procura por proteína animal aumente 52% em relação aos níveis de 2019, para ser capaz de acompanhar este aumento populacional (Global Aquaculture Alliance, 2019). A FAO (2011) considera que o aumento do consumo de carne e lacticínios de bovino, até 2050, seja na ordem dos 58%, em relação aos níveis de 2010. Posto isto, torna-se necessário que a agricultura e a produção animal se tornem bem mais eficientes, a fim de alimentar a humanidade.

Contudo, sabe-se que os ruminantes, nomeadamente os bovinos, são a espécie pecuária responsável pelas maiores emissões de gases causadores do efeito de estufa (GEE), nomeadamente de metano (CH4), com um potencial de aquecimento global muito superior ao Dióxido de Carbono (CO2). Dentro do setor pecuário, o CH4 proveniente à fermentação ruminal representa a maior fonte de emissões de GEE, cerca de 44% (FAO, 2018), surgindo assim a necessidade de encontrar e desenvolver estratégias para diminuir tais emissões. Vários trabalhos têm mostrado que a composição da dieta dos ruminantes pode causar mudanças na microbiota ruminal e alterar a atividade metanogénica e, consequentemente, a produção de gases no rúmen (Huws et al., 2018).

Desde 2019 que tenho vindo a estudar como podemos reduzir estas emissões por parte do gado. Quais as soluções mais viáveis? Será que existe uma solução milagrosa que iniba totalmente estas emissões? Se sim, será eficiente? Será viável e rentável para os produtores? Foi então que me deparei com os primeiros estudos científico que afirmavam ter descoberto uma alga capaz de reduzir as emissões de metano ruminal na ordem dos 99% - a Asparagopsis taxiformis. Na altura poucos acreditavam que tais reduções, nunca antes vistas, fossem possíveis. Dois anos depois consegui, juntamente com equipas de investigadores do CCMAR e do INIAV, levar a cabo o primeiro ensaio em Portugal que testou, in vitro, o efeito desta alga na inibição da produção de CH4 durante a fermentação ruminal.

Esta macroalga vermelha contém vários compostos anti-metanogénicos, incluindo bromofórmio (CHBr3) que é um potente inibidor da metanogénese ruminal. O CHBr3 é um composto altamente volátil e assim a concentração presente na biomassa da A. taxiformis é muito variável, sendo crítico desenvolver procedimentos acessíveis e práticos que evitem perdas de atividade anti-metanogénica e permitam o seu uso na alimentação de ruminantes.

Por conseguinte, o objetivo do trabalho foi caracterizar como é que a concentração de bromofórmio da A. taxiformis é afetada pelo tipo de processamento, tempo e temperatura pós-colheita até ao processamento e comparar o efeito anti- metanogénico, no rúmen, de um suplemento alimentar natural de A. taxiformis sujeita a diferentes métodos de processamento (liofilização e imersão em óleos vegetais).

Este estudo obteve excelentes resultados e permitiu-nos concluir que houve efeitos significativos na concentração de bromofórmio dos diferentes tipos de processamento, tempos e temperaturas em estudo. Em relação ao controlo, a produção ruminal de CH4 in vitro foi reduzida em 84% com a inclusão de A. taxiformis liofilizada e em mais de 96% com a inclusão dos óleos vegetais onde esteve imersa a A. taxiformis. A imersão da alga em óleos vegetais é mais económica e prática que a liofilização, pelo que, a sua utilização como método de processamento de estabilização pós-colheita do CHBr3 é bastante promissora.

O próximo passo será estudar a eficácia deste suplemento em animais in vivo. Os efeitos de longo prazo da inclusão de A. taxiformis na saúde e no metabolismo dos animais, bem como a possibilidade da adaptabilidade a longo prazo do microbioma ruminal, que pode vir a anular o efeito anti-metanogénico, também ainda não estão estudados. Certamente será necessária muito mais pesquisa para otimização das dosagens de modo a obter o melhor compromisso entre a digestão ruminal, metanogénese, saúde animal, produtividade animal e segurança para os consumidores.

Autora: Diana Soares - Bolseira de Investigação da FMV (Faculdade de Medicina Veterinária) e da Terraprima - Serviços Ambientais

Bibliografia Global Aquaculture Alliance (2019). Aquaculture 101, disponível em: https://www.aquaculturealliance.org/blog/what-is-aquaculture-why-do-weneed-it/ FAO (2011). World Livestock 2011 - Livestock in food security. Food and Agriculture Organization of the United Nations, Rome. FAO (2018). Global Livestock Environmental Assessment Model (GLEAM). GLEAM 2.0 - Assessment of greenhouse gas emissions and mitigation potential. Food and Agriculture Organization of the United Nations, Rome. Disponível em: https://www.fao.org/gleam/results/en/ Huws S.A., Creevey C.J., Oyama L.B., Mizrahi I., Denman S.E., Popova M., MuñozTamayo R., Forano E., Waters S.M., Hess M., et al. (2018) Addressing global ruminant agricultural challenges through understanding the rumen microbiome: Past, Present and Future. Front. Microbiol. 2018, 9, 2161.

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